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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

ESTRANHO FENÔMENO - J. B. Rodrigues

Roberval já não agüentava mais os problemas na família. Havia já tempo que evitava todo tipo de reunião e confraternização familiar, pois sempre deixava um saldo de confusão e desentendimento. Era um tal de ela disse que ele disse, entre tantos outros argumentos de ataque e defesa, que nem o conciliador do Fantástico conseguiria resolver.

O pior de tudo era que Roberval tinha sérias desconfianças de que o pivô de todas as desavenças familiares era sua mulher, a qual, sempre jurava de pé junto: - Tu sabes que minha boca é um túmulo!
Pelo sim, pelo não, Roberval resolveu tirar a dúvida – que no fundo, no fundo, era uma certeza – e provar à sua mulher que não tinha uma boca tão santa como afirmava com tanta veemência. Depois de pensar um pouco brilhou no seu cérebro uma idéia, e naquele mesmo dia armou sua estratégia para desmascará-la definitivamente. Saindo do trabalho, passou num pequeno sítio próximo à sua casa onde se criavam galinhas e comprou meia dúzia de ovos, daqueles tipos “da colônia”, dando preferência a alguns até meio sujinhos...

Ao chegar em casa encontrou Doralice, sua mulher, pendurada ao telefone, como sempre, o que desta vez foi até providencial, pois assim, pôde guardar os ovos sem que ela os notasse. Após uma janta acompanhada de muitos comentários e novidades de Doralice, Roberval dirigiu-se à cama levando consigo um ovo. Esperou ela ferrar no sono para acordá-la em seguida com um ar de espanto:
- Doralice... Doralice... Acorda mulher! – Dizia Roberval enquanto a chacoalhava.

Doralice, esfregando os olhos, resmungou incomodada.

- O que foi Roberval? Está tendo um pesadelo? Eu disse pra você não comer demais...
- Não é isso, Dora. É muito pior. Pior do que qualquer pesadelo! – Dizia Roberval, mostrando-se atônito.
- Fala logo o que foi homem – disse Doralice já impaciente. – Está me deixando nervosa!
-Aconteceu algo incrível... E-eu botei um ovo!
-O que?  - Doralice sentou-se na cama enfurecida. – Você me acordou a essa hora pra fazer piadinha de mau gosto?
-Não é piada Doralice! Eu ia brincar com uma coisa dessas? Tá aqui ó, e ainda quentinho! – Dizia Roberval mostrando-lhe ovo, enquanto se esforçava para ser o mais convincente e assustado possível. Foi tão perfeito na arte de representar que Doralice não pôde duvidar.
-M-mas Roberval, como isso é possível?
- Não sei mulher! Amanhã mesmo vou procurar um médico pra tratar disso. Deve haver alguma explicação para uma coisa dessas! Mas ó: Pelo amor de Deus, mulher! Ninguém pode saber disso, senão vou virar a chacota do bairro!
-Claro, claro,  Roberval! Não se preocupe. Por mim ninguém saberá de nada. Você sabe...

Roberval levantou-se cedo pela manhã e nem tomou café. Preferiu tomar seu café na padaria da esquina aparentando estar muito preocupado, e com muita urgência de ir ao médico. Antes de sair, porém, fez sérias advertências à sua mulher para que nada do que aconteceu naquela noite saísse das quatro paredes de seu quarto.
-Ora Roberval, por quem me tomas?- Disse Doralice mostrando-se ofendida. –Tu sabes que minha boca é um túmulo!

Mal Doralice ouviu a porta bater, correu ao telefone:
-Alô, comadre Alvina? Eu preciso dividir isso com alguém, e como você é minha amiga de confiança... Menina você não sabe o que aconteceu esta noite! O Roberval, coitado... Não se sabe como... Pôs dois ovos!!!

Alvina, por sua vez, passado o espanto e após categóricas promessas de total discrição, também tinha, como todo mundo, alguém de sua máxima confiança. Imediatamente ligou para sua cunhada, Mercedes, contando como Roberval, marido de Doralice, pôs três ovos na noite passada!

E assim, espalhou-se a notícia naquela manhã de tal forma que, antes de chegar ao meio dia, quase toda a cidade já comentava o estranho fenômeno do “Zé Galinha”, o homem que a cada noite punha doze dúzias de ovos!

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